O ETERNO RETORNO




Bom, poderíamos começar este tema contando que Nietzsche passeava pelo bosque de Sils Maria, na Suíça, e então teve um profundo pensamento sobre o eterno retorno. Mas seria clichê demais...

Assim, preferimos contar que, nesta época, a revolução industrial estava no seu auge. A máquina a vapor e seu ciclo térmico eram temas de livros sobre termodinâmica! Haviam grandes nomes da ciência em destaque: Clapeyron, Helmholtz, Carnot... Para quem não conhece, o ciclo de Carnot trata de um reciclo térmico portanto de um reciclo energético. E Nietzsche, claro, era um exímio leitor de todo esse cenário! 

O reciclo energético num sistema fechado dá a ideia de início e fim dentro da mesma essência, isto é, sem interferências do meio externo. Nietzsche se dizia muito próximo dos filósofos pré socráticos e daí tem-se a ideia de Heráclito de Éfeso em que poderíamos pensar o mundo como um fogo eterno que se consome e se recria (aqui também é inevitável a lembrança de Shiva Nataraja - deus do Caos e da Ordem - e mesmo do Ouroboros - a serpente que simboliza o eterno). Voilà! Habemus, de uma maneira simplista, o conceito de eterno retorno: o cosmos seria um sistema fechado com energia finita num eterno reciclo interno de todas as coisas! E pode-se ainda desta mesma ideia trazer o conceito de Imanência. A Imanência é algo que tem em si o próprio início e o próprio fim. Logo, unindo os dois conceitos temos que há um constante reciclo, uma constante transformação de energia interna nesse sistema. Poderíamos arriscar uma grosseira simplificação como uma alternância entre SER e NÃO SER. 

Ok! Mas tudo isso continua distante... Como trago esse conceito para minha vida? Qual a aplicação prática disto? Bem, à título de uma mera suposição, Nietzsche propõe o seguinte no aforismo 341 de Gaia Ciência: 

"Como seria se um dia ou uma noite um demônio se intrometesse na sua mais solitária solidão, e dissesse: 'Você terá de viver mais uma vez, e inúmeras vezes mais, esta mesma vida, como a que vive agora e viveu, e não haverá nada de novo nela; porém, cada dor e cada prazer, cada pensamento, e cada suspiro, e tudo indizivelmente pequeno e grande de sua vida voltará para você, na mesma sequência e ordem - inclusive essa aranha e essa luz da Lua entre as árvores, e também este instante mesmo. A eterna ampulheta da existência será sempre invertida - e você com ela, seu grãozinho de pó, em meio à poeira!'. Você não se atiraria no chão rangendo os dentes e amaldiçoando o demônio que falasse desse modo? Ou já vivenciou alguma vez um inacreditável instante em que responderia a ele: 'Você é um deus, e nunca ouvi algo mais divino!'. Se esse pensamento conseguisse dominar você, ele o transformaria, do modo como você é, e talvez até o deixasse em mil pedacinhos; a pergunta para todos e cada um é: 'Você quer tudo isso mais uma vez, e inúmeras vezes?'. Seria um enorme peso sobre suas ações! Ou como você poderia apaziguar-se consigo e com a vida, a fim de não exigir nada além dessa ultima eterna constatação e afirmação?" 

O eterno retorno tem uma formulação profunda, passa pelos filósofos estóicos, pré-socráticos, por Nietzsche...tem um pouco de mecânica quântica inclusive, se colocarmos em questão os aspectos relativísticos da superposição dos corpos e da realidade modificada segundo o observador.

O texto de hoje trata apenas de uma visão cosmológica e bastante simplificada do conceito do Eterno Retorno. De todo modo, a hipótese proposta por Nietzsche no aforismo acima citado oferece uma auto-experimentação bastante valorosa e interessante. 

Repare, se tudo retorna exatamente igual, somos eternamente responsáveis por nossas escolhas e atitudes. Afinal, vamos viver eternamente nossas escolhas! O que significa que devemos dar o nosso melhor para o agora, de maneira que, a simples hipótese de reviver infinitas vezes este momento, seja uma verdadeira dádiva!

Pense: "Se você fosse reviver inúmeras vezes o momento atual, como reagiria? Valeria a pena experimentar sentir e viver cada momento como repetidamente eterno? Qual deve ser sua postura perante a vida para que cada momento possa se repetir eternamente e ainda assim você possa se sentir feliz com isso?"

Isso traz um sentimento de urgência em se viver de fato o agora, o presente. Porque só o agora é eterno! E ele vai se repetir infinitas vezes em diferentes perspectivas! 

Note que não só todas as respostas, mas todas as forças capazes de mudar algo em nossa vida, segundo os conceitos de eterno retorno e da Imanência, residem em nós mesmos. Nós somos os únicos capazes de mudar tudo e qualquer momento da nossa eternidade atemporal, ou seja, o nosso eterno agora!

E, claro, tendo em vista a complexidade do tema, voltaremos a tratar dele aqui. Hoje foi apenas pra deixar com vontade de ler um pouquinho mais e pesquisar sobre o eterno retorno e todos os conceitos que o envolvem! 

Até o próximo texto! 🙋

Renata Chinda- rechinda@gmail.com

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